2022.2 M - FÍSICA E LITERATURA: UM ROMANCE POSSÍVEL!
O presente projeto destaca a Eletiva de Base “Física e Literatura: Um romance possível!”, foi idealizado e desenvolvido pela professora Vaquíria Rodrigues de Almeida e pelo professor Edilson Andrade Alves, e envolve as disciplinas Física e Língua Portuguesa, com foco na Literatura.
Neste percurso pedagógico foram trabalhados a Literatura, o texto literário (suas características e especificidades), diversas atividades e experimentos práticos (envolvendo fenômenos físicos do cotidiano), a Leitura, a Produção e reescrita individual/coletiva, algumas técnicas criativas de escrita literária, Estudo e produção dos gêneros textuais, estudos biográficos (grandes físicos como Isaac Newton e Albert Einstein). Esta prática pedagógica a ser executada na eletiva visa desenvolver o espírito observador e pesquisador dos alunos, de maneira a lhes propiciar a aquisição e/ou construção de uma aprendizagem dos conceitos básicos da Física e da Literatura.
A educação tem papel importante na sociedade, embora ser educador possa trazer uma infinidade de obstáculos. Uma dessas barreiras é estar apto a lidar com a diversidade em sala de aula. Frente a essa realidade, ensinar por interdisciplinaridade se apresenta como um desafio para toda prática pedagógica.
Por conseguinte, o grande desafio educacional, de acordo Japiassu (2006), é preparar os alunos para lidar com as frequentes questões globais, visto que o atual ensino tem se instaurado por meio de conhecimentos fragmentados e descontextualizados da sociedade. Assim, no intuito de reformular esse enfoque se daria a partir da valorização do pensamento interdisciplinar.
Neste sentido, a presente Eletiva aborda as especificidades de algumas temáticas inerentes à Componente Curricular Física, mas dentro de textos literários diversos, estimulando a produção individual e coletiva de textos autorais variados, destacando o processo criativo, estético e ficcional.
No entanto, uma primeira barreira que se impõe, na compreensão da articulação entre Física e Literatura diz respeito ao próprio vocábulo literatura, por este apresentar uma ampla definição e – por isso - necessitar, a priori, de uma clara identificação para que se possa evidenciar o potencial deste termo como possível ferramenta ao ensino de Física.
Assim, esta Eletiva tem o objetivo geral de estimular e exercitar as práticas da leitura e da produção individual e coletiva de textos literários variados a partir de um processo criativo, estético e ficcional familiarizando jovens escritores com diversas técnicas de escrita literária, destacando a importância da história e das obras de alguns físicos, bem como a realidade histórica enfrentada por autores, artistas e cientistas, e relacionando o quanto a Literatura e a Física evoluíram até os dias atuais.
Para isso, foram traçados os seguintes objetivos específicos:
● Conhecer e conceituar Literatura;
● Exercitar a prática da produção de textos literários diversos;
● Produzir individual e coletivamente contos e micro contos;
● Escrever roteiros para textos literários;
● Ler biografias dos grandes físicos;
● Conhecer o pensamento de grandes físicos;
● Identificar e caracterizar os aspectos estruturais de uma autobiografia;
● Conhecer a teoria de Galileu Galilei.
A palavra literatura provém do latim littera que significa “letra”, embora este termo não se traduza apenas sob seu aspecto escrito. Soma-se a este aspecto a preocupação estética dentro do universo literário, apesar de que a Física também apresenta esse viés estético (em seu formalismo matemático, na forma de apresentação de um problema e na sua solução, e até mesmo nos nomes das teorias). Convém ainda acrescentar o entendimento de Literatura como uma arte, conforme descreve Coutinho (1978):
A Literatura, como toda arte, é uma transfiguração do real, é a realidade recriada através do espírito do artista e retransmitida através da língua para as formas, que são os gêneros, e com os quais ela toma corpo e nova realidade. Passa, então, a viver outra vida, autônoma, independente do autor e da experiência de realidade de onde proveio (COUTINHO, 1978, p. 9-10).
Ressalte-se, ainda, a diferença entre literatura e estudo da literatura, uma vez que ambas se constituem em duas atividades bem distintas, pois “enquanto a literatura é criadora, uma arte; o estudo da literatura, embora não possa ser considerada precisamente como uma ciência, encontra-se como uma modalidade do conhecer ou 4 do aprender” (ZILBERMAN, 2012, p. 22).
Dito isto, considerar-se-á como Literatura as atividades que abarcam a leitura, a escrita, a interpretação textual, o papel da divulgação/ficção científica, bem como o uso de analogias e metáforas no ensino de ciência/Física, pois esses trabalhos, conforme a definição dada, aproximam-se do conceito e definição do termo Literatura. Assim sendo, pretende-se explorar os elementos-chave que possibilitam a articulação entre estas duas culturas: a Física e a Literatura.
Nesse sentido, almeja-se trabalhar textos e/ou fragmentos textuais literários em que são abordados conceitos de Física, e, com isso, familiarizar os participantes com diversas técnicas criativas de escrita literária incentivando-os a criarem e a socializarem suas próprias obras utilizando a produção de gêneros diversos.
A correlação entre as componentes curriculares Física e Literatura se consubstancia como o ensino de Física articulado a vários textos literários (e, de modo mais amplo, a contextos culturais, tais como o teatro, a arte, a música, a ficção científica, etc.), e possibilitam uma enculturação do(a) estudante quanto à compreensão dos conceitos físicos em contextos culturais mais amplos, mais especificamente, em obras literárias, como o romance.
Com efeito, a literatura permite investigar todo o contexto sociocultural em que a ciência está inserida, além de estimular o imaginário do aluno, fator importante na compreensão de teorias/conceitos da Física, e presentes em diversas obras literárias. A título de exemplo, podemos citar a obra “Notre Dame de Paris”, de Victor Hugo (1802-1885), cujo texto literário pode ser utilizado para o ensino de ondulatória, em especial, sobre as qualidades fisiológicas do som.
Ademais, o professor começa ver resultados significativos na aprendizagem dos estudantes quando desenvolve trabalhos com atividades literárias e estabelece relações das Física com fatos cotidianos. Por conta disso, os alunos começam dar explicações dos fenômenos físicos em situações do cotidiano, aproximando a ciência do cidadão e, assim, tornando-a mais significativa para o mundo da vida. Como afirma Dornelles (2012):
Não só de fórmulas vivem as aulas de física. Os romances podem ser um poderoso instrumento para preencher lacunas deixadas pelos livros didáticos nas explicações de conceitos da física moderna. [...]
À primeira vista, física e literatura parecem duas disciplinas distantes. Mas o físico apaixonado por arte acredita que a literatura permite investigar todo o contexto sociocultural em que a ciência está inserida, além de explorar o imaginário do aluno.
Os recursos da Arte propiciam aos estudantes um acesso a uma Física menos ‘dura’ e mais atrativa, além de qualificar o jovem escritor a perceber que o ato de escrita exige a todo instante “imaginar”, “pensar”, “elaborar”, “escrever” e “reescrever”. Estimular os participantes a produzirem seus textos individualmente e/ou coletivamente por redes sociais e através de suportes digitais incentivando a publicação desses textos através de livros artesanais ou em formato digital.
Assim, a Literatura viabiliza diferentes possibilidades de usos e significados dos conceitos físicos. Como exemplo, pode-se citar a palavra “magnetismo” que é tão usada quanto a palavra “química”, para designar a atração entre as personagens de contos, poesias e romances. E “sinergia”, para explicar a maneira misteriosa como cooperam para a execução de uma tarefa. Por conseguinte, o estudante atento aos conceitos físicos encontrará, para além dos livros, a Física cotidiana.
[…] verifica-se que a imaginação, quando trabalhada didaticamente por meio da literatura, pode ser considerada como a ponte que conecta uma aprendizagem não conceitual em conceitual, ou entre um conhecimento não científico em científico, podendo se constituir em boa estratégia de ensino (Lima e Ricardo, 2015, p. 581).
E ainda,
[…] a utilização da literatura e seus recursos possibilitam um contato mais próximo das concepções dos alunos, constituindo mais benefícios que malefícios em seu uso, pois subsidiam as ações do professor na construção dos conceitos científicos pretendidos com seus alunos. (ibidem, p. 602).
Portanto, pela transposição didática, com intermédio de textos literários, despertando para a física do cotidiano, há mais chance de o professor alcançar sucesso no ensino dos fenômenos físicos.

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